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sábado, 2 de janeiro de 2010

O Senhor é o meu pastor - Salmo 23



A criação de ovelhas era uma das atividades econômicas mais comuns
em Israel e em outras nações na época do Velho Testamento. Davi,
antes de ser rei, foi pastor de ovelhas (I Samuel 16.11). Ao
escrever o salmo 23, o autor tinha em mente todo o seu cuidado com
as ovelhas e tomou isso como exemplo do cuidado de Deus para
conosco.
Por isso ele disse: "O Senhor é o meu pastor". Davi sabia que Deus,
sendo o seu pastor, cuidaria dele. Observe que o salmista utiliza em
todo o salmo as conjugações da primeira pessoa do singular. O texto
está falando de uma experiência pessoal e intransferível que cada
pessoa deve ter com Deus.
"O Senhor é o meu pastor; nada me faltará". Isso não significa que
Deus nos dará tudo o que queremos, mas nos dará tudo o que
precisamos. Mas isso só acontecerá se o Senhor for realmente o nosso
pastor, ou seja, se ele estiver conduzindo as nossas vidas. Se nós
só fazemos a nossa própria vontade, escolhendo os caminhos que
agradam ao nosso coração, mesmo sendo em direções pecaminosas, então
o Senhor não é o nosso pastor. Mas se estamos vivendo de acordo com
a sua vontade para nós, então estamos seguindo o Senhor como suas
ovelhas. Portanto, tudo começa com compromisso e obediência. Essa é
a essência do versículo 1. Se estou comprometido como ovelha, para
obedecer e seguir ao Senhor, então ele está comprometido comigo para
cuidar de mim e me dar tudo o que preciso.
"Nada me faltará". Está faltando alguma coisa em sua vida? Talvez
você pense que sim, mas pense novamente. Muitas vezes temos um
ilusório sentimento de falta. Isso pode ser maligno. Deus nos deu
pão e achamos que falta manteiga. Deus nos dá manteiga e achamos que
falta queijo. Deus nos dá queijo e achamos que falta presunto.
Afinal, quando Deus nos deu pão, nossa necessidade já estava
plenamente suprida. Ao pensar assim, podemos dizer: Graças a Deus!
Obrigado, Jesus! Quando os israelitas atravessavam o deserto, Deus
lhes deu o maná. Ele vinha todos os dias, exceto no sábado, quando
comiam o que restava do sexto dia. Nunca faltava, mas o povo sempre
estava insatisfeito (Num.11.4-10). Esta insatisfação chama-se
cobiça, concupiscência (Ec.6.7; I Jo.2.16). Queriam carne. Deus lhes
deu o que pediam, mas isso lhes fez mal (Num.11.31-35). Precisamos
ter cuidado com o que queremos. Não estamos impedidos de orar
pedindo algo que não seja pecaminoso. Contudo, precisamos estar
dispostos a receber um "não" como resposta. Então, paramos de pedir
(II Cor.12.8-9).
"Nada nos faltará". Realmente, nada nos tem faltado. O que
precisamos o Senhor nos tem dado. Se alguns desejos legítimos não
foram ainda atendidos, sabemos que para tudo Deus tem um tempo
certo. Nada nos faltará no momento em que o suprimento se fizer
necessário e oportuno.
Algumas vezes Deus nos dá muito mais do que aquilo que precisamos.
Então passamos a ter em abundância. O nosso cálice se enche a ponto
de transbordar (v.5). Então podemos ter a alegria de compartilhar
com o nosso próximo, não deixando que o seu cálice fique vazio.
A partir do versículo 2 do salmo 23, o autor mostra o que acontece
na vida do servo de Deus. Temos aí muitos pontos positivos, como
verificamos nos versos 2, 3, 5 e 6: repouso, descanso, segurança
(deitar-me faz...), pastos verdejantes (bom alimento), águas
tranqüilas, refrigério para a alma, direção (guia-me); justiça;
amor; mesa; óleo (unção); bondade e misericórdia. Essas palavras nos
mostram que Deus está atento para suprir as necessidades
fundamentais do ser humano, abrangendo questões físicas,
psicológicas e espirituais. Só não temos aqui artigos que atendam à
cobiça e à soberba. Ele não vai nos deixar sedentos, famintos,
perdidos e abandonados.
Por outro lado, o texto contém também pontos negativos: O vale da
sombra da morte no verso 4 e os inimigos no verso 5. A vara (v. 4),
enquanto instrumento de disciplina, pode também ser aparentemente
negativa, embora seu objetivo seja positivo.
Isso mostra que a vida com Deus não é uma fantasia, um "mar de
rosas". As dificuldades fazem parte do caminho. Ele nos leva
pelas "veredas da justiça" e vereda é um caminho estreito. Davi se
lembrava de que, quando conduzia as ovelhas, encontrava-se com
animais predadores que queriam devorá-las. Ele chegou a matar um
leão e um urso para proteger o rebanho (I Samuel 17.36). Do mesmo
modo, em nossa vida cristã encontramos o diabo, que ruge como leão
tentando nos destruir (I Pedro 5.8). Mas o salmista demonstra sua
vitória ao dizer: "Não temerei mal algum porque tu estás comigo".
Esta talvez seja a frase de maior destaque no salmo: "Tu estás
comigo". O mais importante não é o que Deus pode nos dar, mas a sua
própria presença conosco. Em qualquer lugar em que ovelha estivesse,
ficaria tranqüila ao levantar a cabeça e ver o cajado. Este seria um
sinal de segurança, pois o pastor estava presente, atento e
cuidadoso.
"O Senhor é o meu pastor; nada me faltará". Não nos faltarão
bênçãos. Não nos faltarão lutas nem adversários, mas tudo isso
cooperará para o nosso bem, pois a bondade e a misericórdia do
Senhor sempre nos acompanharão.
O último versículo nos mostra que essa nossa caminhada com o Senhor
é eterna. Depois de atravessarmos o vale da sombra da morte neste
mundo, entraremos na casa do Senhor. Lá não haverá mais inimigos nem
mal algum. O salmo 23 fala da jornada do salmista durante sua vida,
como a ovelha que caminha com o pastor durante todo o dia. Quando se
aproxima a noite, as ovelhas são recolhidas. Assim será conosco.
Seremos recolhidos à casa do Senhor, onde passaremos a eternidade.
Disse Jesus: "Na casa de meu Pai há muitas moradas... Vou preparar-
vos lugar... para que onde eu estiver estejais vós também." (João
14.2-3).


Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia

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